Videogame que treina a mira de policiais chega ao Rio no 2º semestre; G1 testou
Ao custo de R$ 640 mil, Amazonas é o 1º estado a ter o equipamento.
Policiais civis e militares do Rio ganharão três salas para aperfeiçoar o tiro.
Cláudia Loureiro
Do G1, em Manaus
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O cenário é o mesmo de um filme de ação. Desconfiado, um policial grita para o suspeito: “Afaste-se do carro e coloque as mãos na cabeça”. O suspeito reage ao comando apontando a arma para o agente. O tempo é curto e a mira tem que ser precisa. Num único disparo o bandido cai no chão, morto. A ação policial é considerada um sucesso e o policial sai ileso.
A cena não se passa nas ruas ou favelas onde são comuns os confrontos, e sim numa sala escura em Manaus, onde um videogame de última geração dá vida a bandidos e simula as ações de combate do cotidiano dos grandes centros urbanos. O G1 foi até lá testar a tecnologia, que chegará ao Rio no segundo semestre deste ano. Três salas idênticas estarão à disposição de policiais civis e militares, que atualmente treinam em alvos de papel. O investimento previsto é de R$ 3 milhões.Os ingredientes do videogame são os mesmos do dia a dia: o policial aborda o suspeito, tenta negociar sua rendição e, se ameaçado, acerta (ou erra) o alvo. O agente interage com o bandido durante todo o tempo.
Foto: Claudia Loureiro/ G1 Para acertar o alvo é preciso mirar no peito do criminoso (Foto: G1) É na Secretaria de Segurança Pública do Amazonas que seis telas num espaço em formato de hexágono projetam o que há de mais moderno na linha de simulação de ações perigosas. As imagens cobrem 360º. O objetivo é aperfeiçoar a mira de 10 mil policiais que atuam na região. O tiro, a laser, tem que ser certeiro para derrubar o inimigo virtual, que aparece em tamanho natural na tela.
“Esse sistema vai preparar melhor o policial para a segurança pública. Muitos turistas vão estar aqui na Copa de 2014 e temos que estar bem preparados. Foi um investimento de R$ 640 mil, mas os benefícios são inúmeros. Primeiro, custo e risco zero. Segundo, treinar bem os nossos policiais. Não serve para treinar pistoleiros, serve para treinar bons policiais que têm a consciência que a arma só deve ser usada em extrema necessidade, para defender a vida dele ou de terceiros. Outro benefício importante é corrigir a postura do policial. Cada cena é treinada exaustivamente e o policial só vai partir para o treinamento real, de estande de tiro, depois que ele corrigir todos os seus maus hábitos”, explica Francisco Sá Cavalcante, secretário de Segurança Pública do Amazonas.
Arma de verdade, tiro de mentira
O treino é feito com armas de verdade, mas a munição é de mentira. No caso das de pequeno porte, como as pistolas, as balas são substituídas por um cilindro de gás. Já os fuzis usam gás carbônico para simular o tiro. Se o policial erra o alvo e é atingido pelo inimigo, recebe um choque. Um cinto preso à cintura que dispara a descarga elétrica se encarrega de avisar que ele “morreu”.
O tempo de duração do treino virtual varia de 1 a 5 minutos e os cenários são inúmeros. O treino pode ser feito por um policial sozinho ou em grupos de quatro. O policial pode treinar a sua reação em situações como assaltos, operações policiais com helicópteros, ataques de gangues e roubo com reféns. Em Manaus, são cerca de 70 cenários que se desdobram em mais de 300, já que o instrutor pode escolher entre quatro possíveis desfechos. A ideia é surpreender o policial para que ele não saiba como o inimigo vai agir.
Também é possível criar novos cenários e adaptá-los a realidade de cada local.
“Temos aqui um ataque à tropa americana no Iraque e no Afeganistão, mas não usamos porque não faz parte do nosso dia a dia. Mas você pode fazer uma filmagem nova porque o sistema aceita. Você pode, por exemplo, filmar uma operação policial numa favela ou num morro do Rio e instalá-la no simulador para corrigir as distorções. O programa treina o policial para que ele tenha o reflexo de reagir corretamente. Ele tem poucos segundos para tomar a decisão de disparar ou não”, conta o coronel Max Lopes da Silva, um dos responsáveis pelo o uso do sistema no Amazonas.
Bope e Força Nacional treinaram
Foto: Claudia Loureiro/G1 Policiais interagem com o inimigo virtual e tentam convencê-lo a se entregar (Foto: Cláudia Loureiro/G1 ) No final do ano passado, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Força Nacional de Segurança estiveram em Manaus para testar o ‘game’. Alguns policiais civis e militares também já testaram o equipamento e deram suas impressões.
“O simulador não vai substituir o aprendizado de um tiro normal, que a gente sempre primou. É um passo a mais. Depois que o policial sabe atirar, o simulador serve para situações específicas, porque admite erros e a rua não admite”, alerta o major Paulo Roberto das Neves, do Centro de Instrução Especializada em Armamento e Tiro (Cieat), em Sulacap, na Zona Oeste do Rio.A sensação, segundo ele, é impressionante. “São várias cenas reais e você fica no meio. Você acaba se deixando envolver pelo clima, tem o jogo de luz, de som, você entra no clima, há uma tensão, uma recepção ríspida num bar, você esquece que aquilo ali não é realidade. O sistema trabalha com essa parte psicológica. Se um tiro pegou um inocente, a carreira está prejudicada. E se ele tomou um tiro, vai tomar mais cuidado com a segurança dele”.
De acordo com o major, todos os policiais que saem de férias precisam passar por uma reciclagem quando retornam o trabalho. Nesse período, os treinos são pesados. “É o dia inteiro dando tiro. São mais ou menos 100 disparos e todas as armas são utilizadas”. Além de usar o videogame na capacitação do policial, a ideia é que ele faça parte da formação de cadetes e soldados.
Para o subchefe operacional da Polícia Civil, Carlos Oliveira, que experimentou o sistema em 2007, em uma viagem a Miami, um ponto positivo é a economia.
“Tive contato com isso fora do país, um modelo diferente, mas a ideia é a mesma. São várias situações possíveis. É exatamente o que a gente precisa com relação à busca da eficiência. Você pode interagir com as imagens, as situações que se aproximam muito da realidade, mas com a possibilidade de você refazer o que saiu errado, refazer todo o treino pra corrigir o erro. Fora a economia, já que você não gasta munição. Tá na cota certa do que precisamos”.
*Colaborou Carolina Lauriano
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